Entre os animais monitorizados inclui-se o Gaspar, o primeiro golfinho boto-branco a ser avistado na Península Ibérica. (Foto: DR)

Foi visto pela primeira vez em 2017, nas águas da foz do rio Douro, no Porto, e acredita-se que seja o primeiro golfinho boto-branco avistado na Península Ibérica. Chama-se Gaspar e, hoje, é a “mascote” entre as muitas espécies de cetáceos que têm vindo a ser monitorizados, desde 2012, por investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP), no âmbito do projeto CETUS. O objetivo passa por recolher dados de ocorrência de baleias e golfinhos na costa Portuguesa e e em toda a área da Macaronésia (Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), para determinar a distribuição e abundância daquelas espécies na região do oceano Atlântico.

Prestes a iniciar mais uma campanha – a oitava -, o programa de monitorização conta com uma equipa fixa de quatro elementos do CIIMAR-UP, liderada pela investigadora Isabel Sousa Pinto, professora da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). Para apoiar o trabalho no terreno, o CIIMAR conta ainda com a parceria com a empresa TRANSINSULAR – Grupo ETE, que permite que os observadores de cetáceos embarquem nos navios de carga que, durante o verão, são utilizados exclusivamente para o efeito ao longo das rotas entre Portugal Continental e as ilhas da Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde.

Mais recentemente, em 2017, o Projeto CETUS iniciou outras duas grandes frentes de trabalho. Estabeleceu uma parceria com o Instituto Hidrográfico (IH) que possibilita o embarque dos investigadores nos navios NRP Gago Coutinho e NRP D. Carlos I; e iniciou a monitorização, a partir de ponto fixo em terra, de um grupo de botos – incluindo o Gaspar na região da Foz do Rio Douro.

O projeto possui uma base de dados com centenas de fotos e vídeos subaquáticos que testemunham o dia-a-dia destes cetáceos e da equipa em campo. (Foto: DR)

Um mundo por desvendar

Os principais objetivos do Projeto CETUS passam então por fornecer novo conhecimento sobre a distribuição e abundância de cetáceos em áreas remotas (offshore), bem como recolher dados em áreas pouco estudadas, como é o caso das águas do norte de Portugal e a região da Foz do Douro.

Com os dados recolhidos desde 2012, já foi possível registar 27 espécies de cetáceos, criar modelos de habitat para mapear, explorar e prever os chamados hotspots (zonas com grande abundância destes seres vivos), abordando as prioridades nacionais e internacionais europeias de conservação e apoiando as decisões de gestão. A nível científico, os dados recolhidos estiveram também na origem de várias teses de pós-graduação. É o caso do trabalho de doutoramento da investigadora Mafalda Correia do CIIMAR em modelação de habitat e considerações para a conservação de áreas marinhas protegidas, ou das teses de mestrado dos investigadores do CIIMAR Agatha Gil sobre cetáceos na ZEE continental e os botos da Foz do Douro, e Raul Valente, focado nas migrações de baleias de barba na área da Macaronésia.

A nova temporada contará com cinco observadores de cetáceos que, vindos dos quatro cantos do mundo, irão registar as diferentes espécies de cetáceos na região da Macaronésia. Rhiannon Nichosl (Reino Unido) e Tara Callahan (Austrália) vão embarcar nos navios da Transinsular nas rotas das ilhas dos Açores e da Madeira, ao passo que Esteban Iglesias (Espanha) já se encontra a bordo do navio do Hidrográfico na companhia do investigador Raul Valente. Nesta missão, os observadores de cetáceos irão percorrer áreas nunca antes monitorizadas pelo Projeto CETUS para além da ilha das Flores.

Por cá, o trabalho decorre também na monitorização dos cetáceos junto à costa de Portugal Continental e são feitas observações diárias dos cetáceos na Foz do Rio Douro. As observações são feitas de segunda a sexta-feira, sempre que as condições meteorológicas o permitem.

“Nos últimos dias fizemos o registo de Roazes (Tursiops truncatus), Rissos (Grampus griseus) e Botos (Phocoena phocoena) que é a espécie foco do nosso trabalho de investigação na Foz.” refere Agatha Gil, investigadora do CIIMAR. E o Gaspar, claro, não faltou à chamada…

Para além do trabalho de monitorização, a equipa CETUS empenha-se ainda na colaboração com outras equipas do CIIMAR,como é o caso do projeto MarInfo ou dos trabalhos das equipas Bioremediation and ecosystems functioning e Animal Genetics and Evolution, que já permitiram importantes estudos sobre a pele e a gordura de diversas espécies de cetáceos.

Em parceria com o Observatório Oceanico da Madeira e financiado pelo MarInfo, o Projeto CETUS colocou ainda três tags em baleias-piloto nas águas da ilha da Madeira com o intuito de estudar as suas deslocações.