A presença de cianotoxinas nas águas de irrigação pode colocar em causa a segurança dos alimentos vegetais provenientes da agricultura. (Foto: DR)

A escassez de água versus a necessidade de produzir alimentos que acompanhem o crescimento da população mundial é dos maiores desafios do mundo atual. Imediatamente a par desta preocupação, a contaminação dos recursos hídricos pela agricultura e a sua sobre-exploração constitui um um grande problema ambiental. É no seio desta ambivalência que nasce o projeto TOXICROP do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), um projeto de carácter internacional que desafia a refletir a qualidade e segurança da água utilizada na irrigação agrícola e a desenvolver novas estratégias de gestão dos recursos hídricos.

Financiado pelo Horizonte 2020 (H2020), este projeto liderado pelo CIIMAR envolve o intercâmbio de uma equipa multidisciplinar de investigadores de Portugal, Dinamarca, Eslovénia, Espanha, Marrocos, Egipto, Colômbia e Peru. A uni-los estará o estudo da qualidade da água doce usada na agricultura e a identificação dos desafios que se colocam no que respeita à proteção das culturas e qualidade e segurança dos alimentos vegetais relativamente à presença de contaminantes trazidos pelas águas de irrigação, nomeadamente cianotoxinas.

“As temperaturas elevadas, associadas a outros fatores tais como excesso de nutrientes da água, conduzem muitas vezes à proliferação de um tipo específico de microalgas designadas por cianobactérias. Algumas destas espécies de microalgas produzem e libertam para o meio aquático toxinas (cianotoxinas) que podem provocar graves problemas de saúde. Neste sentido é importante haver uma vigilância constante destes contaminantes na água e evitar que os mesmos estejam presentes na água que bebemos e nos alimentos que ingerimos”, esclarece Alexandre Campos, líder do projeto e investigador do CIIMAR .

Mais concretamente, o TOXICROP visa mapear as áreas de irrigação agrícola com risco de ocorrência de cianotoxinas nos países membros do consórcio, para compreender a sua deposição nas lavouras assim como a sua possível bioacumulação e contaminação dos alimentos cultivados. O trabalho envolve ainda uma forte vertente de desenvolvimento de técnicas de tratamento de água que sejam “low cost” e amigas do meio ambiente.

O aspeto inovador deste projeto baseia-se na sua abordagem multidisciplinar, que deverá contribuir para a elucidação dos requisitos mínimos de qualidade aplicados às águas de irrigação. “A integração de países com diferentes regimes meteorológicos e práticas agrícolas num único projeto constituirá uma abordagem única e consolidará as colaborações transnacionais”, refere Alexandre Campos.

Dada a relevância dos resultados a retirar deste projeto, espera-se que estes sirvam como diretrizes para a gestão e tratamento da água e que contribuam para a implementação de uma agricultura mais sustentável e segura na Europa e no mundo.