A mineração no mar profundo é hoje uma aposta atrativa para a obtenção de metais e minerais para a indústria. (Foto: DR)

Numa altura em que a exploração dos fundos oceânicos é anunciada como a próxima grande aposta da indústria extrativa, os investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR) desenvolveram modelos numéricos que permitem prever os cenários de dispersão de sedimentos resultantes de atividades mineiras no mar profundo e antecipar assim as possíveis consequências sobre os ecossistemas marinhos. O estudo, desenvolvido no âmbito do projeto “CORAL – Exploração Sustentável do Oceanos”, numa parceria entre o CIIMAR e o INESC TEC, foi publicado na prestigiada revista internacional Science of the Total Environment.

A mineração no mar profundo apresenta-se como uma aposta atrativa para a obtenção de metais e minerais para a indústria. Por exemplo, o fundo oceânico da Zona Económica Exclusiva (ZEE) portuguesa, em particular nas áreas próximas de fontes hidrotermais ao largo das ilhas dos Açores, apresentam sulfuretos maciços ricos em cobre e níquel, materiais esses com alto interesse económico. Ao mesmo tempo, porém, grande parte destes recursos localizam-se em áreas próximas de ecossistemas únicos de grande valor ecológico e que podem vir a ser danificados devido às atividades de extração, à emissão e transporte de sedimentos e pelo ruído e luz associados.

Miguel Santos, investigador principal da linha “Ferramentas” do projeto CORAL, sublinha que “antes de se começar a licenciar atividades de mineração em mar profundo, urge estabelecer orientações ambientais e de gestão que permitam uma exploração sustentável minimizando os seus impactos, e para isso é preciso desenvolver ferramentas que permitam antecipar os seus efeitos”.

O trabalho do grupo de Dinâmica Oceânica e Costeira e Sistemas Aquáticos do CIIMAR, liderado pela investigadora Luísa Bastos, respondeu preventivamente a esta problemática através da implementação uma ferramenta numérica para analisar cenários de dispersão de sedimentos associada a atividades de mineração. As áreas analisadas dizem respeito a áreas próximas de três importantes fontes hidrotermais localizadas na ZEE portuguesa que estão classificadas pela OSPAR como Zonas Marinhas Protegidas desde 2007: Menez Gwen, Rainbow e Lucky Strike.

desenvolveram modelos numéricos que permitem prever os cenários de dispersão de sedimentos resultantes de atividades mineiras no mar profundo e antecipar assim as possíveis consequências sobre os ecossistemas marinhos

Segundo Isabel Iglesias, Investigadora Auxiliar do CIIMAR, “estes modelos numéricos permitem compreender e representar a dinâmica oceânica destas áreas, e prever os cenários de dispersão de diferentes partículas sedimentares resultantes de atividades de mineração, em função da profundidade, geomorfologia e hidrodinâmica dos locais”.

Apesar da grande variabilidade dos resultados em função do tipo de sedimento, morfologia da zona de atuação e profundidade de libertação das partículas sedimentares, o estudo agora publicado conclui que as partículas associadas a possíveis atividades de mineração nas áreas estudadas podem permanecer em movimento por um período variável entre as 14 h e os 40 dias e afetar uma grande quantidade de ecossistemas num raio que pode atingir os 190 km.

Face a estes resultados, a líder do projeto, Luísa Bastos, realça a importância destes modelos numéricos como “ferramentas fundamentais para prever o possível raio de impacto das atividades de mineração no mar profundo, delimitar zonas de proteção dos ecossistemas, apoiar a implementação de planos de monitorização e avaliação de riscos, e desenho de ações de mitigação”.

O CORAL é um projeto colaborativo entre o CIIMAR e o INESC TEC com várias frentes de atuação. A linha de investigação “ferramentas”, da qual provem este estudo, tem como foco o desenvolvimento de sensores e metodologias para avaliação dos efeitos da mineração no mar profundo.

O projeto “CORAL – Sustainable Ocean Exploitation: Tools and Sensors” é apoiado pela Rede Operacional Regional Norte de Portugal (NORTE2020), ao abrigo do Acordo de Parceria PORTUGAL 2020, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.