Os compostos de defesa produzidos por muitos microorganismos têm potencial para produção de fármacos contra infeções no ser humano. (Foto. DR)

Ninguém diria que, escondidas nas algas castanhas frequentemente encontradas na nossa costa, podem viver respostas para produção de novos medicamentos antibióticos e anticancerígenos. O estudo feito por investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) publicado na revista científica Frontiers. Microbiology, revela que as actinobactérias que vivem num grupo nativo de algas castanhas produzem compostos com potencial para combater infeções resistentes.

Considerado inédito e promissor, o trabalho realizado pela equipa liderada pela investigadora Maria de Fátima Carvalho investigou a comunidade de actinobactérias associadas à espécie de alga Laminaria ochroleuca, uma alga comum na costa portuguesa, com o objetivo de compreender de que forma se estabelece a ligação entre os dois tipos de organismos e qual o seu potencial.

Trabalho foi conduzido pela equipa liderada pela investigadora Maria de Fátima Carvalho. (Foto: CIIMAR)

“A alga castanha Laminaria ochroleuca forma as chamadas florestas de kelp, que estão entre os ecossistemas mais diversos e produtivos”, referiu a investigadora do CIIMAR.

“Focámo-nos na comunidade de bactérias ligadas a estas algas, as actinobactérias, que estão muito ligadas à produção de compostos conhecidos para antibióticos”, explica.

Os resultados identificaram compostos produzidos pelas actinobactérias com potencial antimicrobiano e anticancerígeno, ou seja, foi demonstrado que os compostos defensivos que as bactérias produzem para se protegerem no meio onde vivem possuem biotecnologia capaz de ajudar a combater infeções no ser humano. Os resultados mostram ainda que estes compostos são também capazes de inibir linhas celulares cancerígenas: “Sete dos extratos inibiram o crescimento de cancro da mama e, particularmente, de células nervosas”, esclarece Maria de Fátima Carvalho. Estes resultados levam os investigadores a crer que outras espécies de algas possam ser uma fonte valiosa de compostos para a produção de novos fármacos, por exemplo.

Assim, e muito embora tudo indique que estes compostos possam enquadrar soluções para problemas como infeções resistentes, como infeções hospitalares, ou alguns tipos de cancro, o estudo deverá prosseguir de forma a comprovar as indicações dadas pelos resultados já obtidos. Além disso, muito ainda está por conhecer acerca de dois extratos de bactéria descobertos pelos investigadores e que são completamente novos, ou seja, que não ainda estão classificados e que terão de ser estudados em profundidade.

“Identificámos extratos de duas estirpes de actinobactéria que não combinam com nenhum composto conhecido no banco de dados internacional mais abrangente de compostos bioativos naturais. Pretendemos dar seguimento a estes resultados empolgantes”, indica Maria de Fátima Carvalho.

A investigadora do CIIMAR conclui dizendo ainda que as actinobactérias marinhas são relativamente pouco exploradas e que podem ser uma fonte muito rica de moléculas microbianas bioativas, uma matéria-prima que “vale a pena explorar”.