São conhecidas pela firmeza com que se agarram às rochas e como iguaria predileta dos portugueses mas, até lá chegarem – às rochas e ao prato… -, as lapas percorrem centenas de quilómetros pelos oceanos. É nesse caminho que encontram um conjunto de barreiras “invisíveis” que limitam o movimento migratório, conclui um estudo realizado por investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), publicado na última edição da revista PLOS One.

Após a fecundação da lapa, “o ovo que resulta deste processo dá origem a uma pequena larva que viaja ao sabor das correntes predominantes durante cerca de um mês, até se fixar numa rocha da qual pouco se afastará durante toda a vida adulta”, começa por explicar Alexandra Sá Pinto, co-autora do artigo. Com base na análise de marcadores genéticos em indivíduos de duas espécies de lapas, os investigadores defendem que, para viajarem entre estas áreas, as pequenas larvas têm de ultrapassar barreiras invisíveis, “mas imponentes”, que existem no mar.

Ao todo, são três as barreiras oceânicas identificadas pela equipa do CIBIO. A primeira situa-se na zona do Sul de Itália e separa as populações das bacias Este e Oeste do Mediterrâneo. A segunda, de localização ainda incerta, impede a migração de indivíduos entre a costa atlântica da Peninsula Ibérica e a costa atlântica de Marrocos e do Mar de Alborán (entre Espanha e a costa de Marrocos e Argélia). A terceira barreira separa as populações que habitam as águas frias e de alta salinidade do Oceano Atlântico das que habitam as águas quentes e de baixa salinidade do Mar Mediterrâneo.

Da definição das três barreiras oceânicas resultou, então, a delimitação de quatro grandes áreas entre as quais a migração de indivíduos é pouco provável: as costas Atlânticas da Península Ibérica, a costa Atlântica Marroquina, a costa europeia da bacia este do Mar Mediterrâneo e a costa europeia da bacia oeste do Mar Mediterrâneo.

Apesar da natureza de algumas das barreiras ser ainda desconhecida, os resultados do estudo podem ajudar à implementação de medidas de preservação das lapas. “Perceber quanto e por onde viajam as larvas destes animais e quais os fatores que determinam o roteiro da viagem é essencial para desenhar planos de gestão e conservação destas espécies”, concretiza a equipa de investigação, que inclui ainda os investigadores Paulo Alexandrino, Madalena Branco, Michael Fontaine e  Stuart Baird.

Ainda segundo os autores do estudo, as populações das espécies que ocorrem nas quatro grandes áreas delimitadas pelas barreiras “deverão ser consideradas de forma independente aquando da elaboração de planos de gestão e conservação e geridas como tal”.