O grande tubarão-branco é uma das espécies que se encontram ameaçadas pelo crescimento das zonas de pesca comercial em mar aberto. (Foto: DR)

Um artigo publicado na prestigiada revista Nature por uma equipa internacional que inclui os investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO-InBIO) Nuno Queiroz, Ana Couto, Marisa Vedor, Ivo da Costa, Gonzalo Mucientes e António M. Santos, demonstra que as zonas de pesca comercial em mar aberto estão a sobrepor-se a áreas de grande importância ecológica para os tubarões, o que poderá aumentar ainda mais o risco de extinção nomeadamente dos grandes tubarões migratórios.

O tubarão-azul, anequim e tubarão-branco são alguns exemplos icónicos de tubarões que vivem em mar aberto, também conhecidos como pelágicos. A grande maioria destes poderosos predadores passa a vida a migrar por extensas áreas dos oceanos, as quais incluem zonas de atividade piscatória comercial.

Muitas populações de tubarões pelágicos estão a decrescer, sendo que quase metade das espécies se encontra ameaçada de extinção. Para avaliar com mais detalhes o impacto da pesca industrial sobre os tubarões pelágicos, uma equipa internacional que para além do CIBIO-InBIO incluiu investigadores de mais de 100 instituições, entre elas o Marine Biological Association Laboratory (Plymouth, Reino Unido), estimou o quanto as zonas de pesca industrial sobrepõem-se aos habitats destes tubarões. O artigo então publicado traz um mapeamento global dos oceanos e, segundo o qual, poucas são as áreas onde os tubarões podem refugira-se da pesca comercial.

Nuno Queiroz, investigador do CIBIO-InBIO e primeiro autor do artigo, explica que “estudos anteriores indicavam que aproximadamente metade das capturas de tubarões nas áreas de pesca comercial são de tubarões pelágicos de grande porte. Contudo, utilizando somente esta informação era muito difícil estimar o impacto da pesca comercial, pois os dados disponíveis poderiam ser incompletos. Para além disso, não havia ainda um conhecimento detalhado sobre quais seriam as áreas mais utilizadas pelas diferentes espécies de tubarões migratórios”.

Os investigadores do artigo agora publicado recorreram então a uma análise comparada entre os movimentos de tubarões pelágicos e o de embarcações de pesca comercial. As informações foram obtidas através de dispositivos de localização via satélite, os quais permitiram seguir o movimento de 1.681 tubarões pelágicos de grande porte, representantes de 23 espécies. Já os dados sobre os movimentos das embarcações foram obtidos de seus sistemas de segurança e anti colisão, que também dispõem de dispositivos de localização via satélite.

“Observamos que, em média, 24% do espaço utilizado ao mês pelos tubarões coincide com as zonas de pesca comercial, as quais são responsáveis pela captura da maioria dos tubarões pelágicos”, mais explica Nuno Queiroz. Já as áreas do oceano frequentadas por espécies ameaçadas de extinção apresentam uma taxa de sobreposição ainda maior com as zonas de pesca, podendo alcançar 76% do espaço utilizado pelos tubarões, como é o caso do tubarão-azul do Atlântico Norte, espécie de grande interesse comercial.

O estudo também demonstra que algumas das áreas oceânicas de maior importância para os tubarões estão expostas a taxas de pesca mais intensas. Os autores sugerem que para proteger estes tubarões será necessário implementar medidas de proteção e propõem como solução a delimitação de grandes áreas de proteção marinha ao redor dos habitats de maior importância para os tubarões.

O artigo agora publicado insere-se no Global Shark Movement Project, um projeto coliderado pelo CIBIO/InBIO com o objetivo de estudar o comportamento, ecologia e promover a conservação de tubarões à escala global.