Padrão alimentar densamente energético, com carnes processadas e sem sopa, poderá explicar obesidade infantil

Seguir um padrão alimentar pautado por alimentos de elevada densidade energética (como bolos e refrigerantes) e carnes vermelhas/processadas aos sete anos de idade poderá explicar, em parte, a existência de obesidade, logo aos dez anos, segundo um estudo da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que usou dados da coorte Geração XXI. O trabalho arrecadou o 3.º prémio de melhor comunicação oral no XVII Congresso de Alimentação e Nutrição e I Congresso Internacional de Alimentação e Nutrição que aconteceu em Lisboa, nos dias 10 e 11 de maio.

“Com este trabalho, queríamos identificar padrões alimentares que explicassem a obesidade durante a infância. Por isso, definimos padrões aos sete anos que explicassem prospectivamente o índice de massa corporal aos dez”, explica Andreia Oliveira, investigadora integrada na EPIUnit do ISPUP e coordenadora do trabalho, cuja primeira autora é Andreia Pinto, estudante do Mestrado em Saúde Pública da Universidade do Porto.

“O que diferencia este trabalho de outros anteriores que mostram a associação do consumo alimentar com a obesidade, é que neste estudo definimos a forma como as escolhas alimentares se agregam e o seu efeito cumulativo (padrão alimentar) através de uma metodologia que já tem em conta a explicação do estado ponderal da criança mais tarde na vida. A maioria das abordagens para estudar padrões, não considera a explicação de um resultado específico, como a obesidade”, refere a investigadora.

Os investigadores usaram informação das avaliações dos sete e dos dez anos de 4.759 crianças da coorte Geração XXI – projeto iniciado em 2005, que acompanha o crescimento e o desenvolvimento de mais de oito mil crianças da cidade do Porto – e compararam três metodologias para definir os padrões alimentares que explicam a obesidade.

“O método que melhor explicava a variância dos alimentos aos 7 anos e concomitantemente o índice de massa corporal das crianças aos 10 anos era um padrão essencialmente rico em carnes vermelhas/processadas, bolos, gelados e refrigerantes e com baixo consumo de sopa”, adianta Andreia Oliveira.

Os investigadores constataram que as crianças que seguiam este padrão alimentar já tinham nascido grandes para a idade gestacional e as suas mães eram mais novas e menos escolarizadas.

“Vemos que quando estas crianças nasceram já tinham mais peso do que o recomendado. O peso ao nascimento é um indicador do desenvolvimento intrauterino e, por isso, a programação para a obesidade inicia-se desde muito cedo e tende a manter-se ao longo da vida. A Geração XXI representa uma base amostral única para mostrar estes efeitos ao longo da trajetória de vida”, conclui.

O trabalho designado Identification of dietary patterns at 7 years-old that explain body mass index (BMI) at 10 years-old: Comparison of 3 methodological approaches in the G21 cohort contou também com a colaboração do investigador Milton Severo, da EPIUnit do ISPUP. O artigo está em processo de revisão e será brevemente submetido a publicação.