Estudo premiado poderá ter, no futuro, aplicação clínica no diagnóstico, monitorização e tratamento dos doentes com síndrome de bexiga hiperativa.

Tiago Lopes, estudante de Doutoramento da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), venceu o Prémio do Internato Médico do Centro Hospitalar São João, financiado pela Bial. O galardão distinguiu um trabalho sobre o papel potencial das neurotrofinas urinárias como biomarcadores  no síndrome de bexiga hiperativa, que poderá ter, no futuro, eventual aplicação clínica no diagnóstico, monitorização e tratamento dos doentes com esta condição. O estudo foi publicado no The Journal of Urology, uma das mais prestigiadas edições científicas na área da Urologia, a nível mundial.

O síndrome da bexiga hiperativa é uma doença do trato urinário caracterizada pela presença de imperiosidade, com ou sem incontinência urinária, geralmente associada a aumento da frequência urinária diurna e noturna. Até ao momento não existe cura nem qualquer teste objetivo para diagnosticar este problema, que se estima que afete cerca de 12% dos europeus e até 40% dos idosos.

O jovem investigador, que é também médico interno no Serviço de Urologia do Centro Hospitalar São João, onde parte da investigação foi desenvolvida, avaliou o papel de duas neurotrofinas, proteínas necessárias para o crescimento e suporte dos neurónios, no síndrome de bexiga hiperativa – o BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro) e o NGF (Fator de Crescimento Nervoso). De salientar que a associação entre o BDNF e o síndrome de bexiga hiperativa nunca tinha sido estudada.

Trabalhos realizados em laboratório por uma equipa de investigação da FMUP já tinham demonstrado, em modelos animais de disfunção vesical, que o BDNF urinário estava aumentado. O estudante de doutoramento comprovou que “doentes com síndrome de bexiga hiperativa seguidos em consulta de Urologia no Centro Hospitalar de São João apresentam concentrações urinárias elevadas de BDNF e de NGF e que, no caso do BDNF, a sua normalização, após tratamento conservador e farmacológico, se correlacionava com a melhoria dos sintomas”.

“Estas novas informações podem contribuir para elucidar as bases fisiopatológicas desta doença, com eventual interesse na avaliação e monitorização dos sintomas, podendo mesmo permitir o desenvolvimento de fármacos que atuem sobre as vias moleculares que se encontram alteradas, determinando as elevadas concentrações urinárias destas neurotrofinas”, explica o jovem médico.

Francisco Cruz, coordenador da equipa de investigação responsável pelo estudo da bexiga hiperativa na FMUP e diretor do Serviço de Urologia do CHSJ, considera que “este prémio – mais do que o seu valor monetário – representa um enorme incentivo para os jovens investigadores que assim veem reconhecido pelos pares e por entidades de reconhecida importância no mundo científico nacional o trabalho que vêm realizando”.

No valor de 5 mil euros, o Prémio do Internato Médico é financiado pela Bial. Distingue o melhor trabalho de investigação clínica em Ciências da Saúde, total ou parcialmente realizado no Centro Hospitalar de São João, e cujo primeiro autor seja médico interno daquela instituição.

Esta é uma das várias investigações de translação desenvolvidas na FMUP que juntam médicos e cientistas.