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Ambos os compostos provaram não ter um papel defensivo nas cianobactérias, mas sim inibitório, ao contrário do que se sucede nas plantas.

Uma equipa liderada pelo investigador Pedro Leão, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR), encontrou uma molécula natural usualmente presente na resina dos pinheiros – o ácido desidroabiético – numa cianobactéria isolada de uma praia em Vila Nova de Mil Fontes.

Esta descoberta surpreendeu toda a equipa de investigadores uma vez que se pensava que este composto, um terpeno, era exclusivo das plantas superiores, sendo um dos componentes (bem como o seu análogo ácido abiético) da resina dos pinheiros e outras coníferas, protegendo as plantas contra ferimentos. Dada a sua abundância na resina, os dois compostos têm sido usados como biomarcadores de plantas superiores em estudos geoquímicos ou de paleobotânica.

A equipa do CIIMAR procurou assim compreender se estes dois terpenos estavam presentes noutras cianobactérias (um tipo de bactérias fotossintéticas) da sua coleção de culturas, que tem sido utilizada na pesquisa de novas moléculas bioativas com potencial farmacológico. Surpreendentemente, estes compostos foram encontrados em diversos géneros de cianobactérias, provenientes de ambientes marinhos ou de água doce, não só em Portugal como noutras áreas geográficas.

Os investigadores avaliaram seguidamente se os compostos teriam um papel defensivo nas cianobactérias, assim como o têm nas plantas. Estes terpenos não demonstraram ser tóxicos para um crustáceo que se alimenta de cianobactérias mas inibiram o crescimento de uma outra cianobactéria (um potencial competidor). “O estudo não afasta, no entanto, a possibilidade de os compostos serem mensageiros intercelulares (moléculas que são libertadas por uma célula e detetadas por outra(s), permitindo assim transmitir informação), à semelhança de alguns terpenos de plantas”, refere Pedro Leão.

Segundo os investigadores, esta descoberta traz implicações imediatas para o uso destes terpenos (ou seus derivados) como biomarcadores (moléculas que são interpretadas como a assinatura química de um organismo ou tecido) de plantas superiores – já que a partir deste momento terá sempre de se considerar uma eventual origem bacteriana sempre que estes são encontrados.

Os terpenos são uma das maiores famílias de pequenas moléculas naturais, com dezenas de milhares de compostos descritos. Muitos têm aplicações importantes, como por exemplo o fármaco antitumoral taxol ou a artemisinina, um potente antimalárico.