A equipa do projeto MIRACLE reuniu no Clube Universitário do Porto. (Foto: DR)

O Clube Universitário do Porto recebeu nos últimos dias mais uma reunião do MIRACLE, um projeto europeu que junta físicos, engenheiros biomédicos e eletrotécnicos e especialistas de tecnologias de informação no desenvolvimento de uma sonda minimamente invasiva para avaliação de articulações: um artroscópio de última geração.

O objetivo desta equipa de investigação, que conta com a participação da Universidade do Porto através do i3S – Instituto de Investigação e Invoação em Saúde, passa por produzir a primeira sonda com base em infravermelhos médios, num sistema que permita a análise bioquímica da cartilagem da articulação do joelho, respondendo às necessidades do pessoal clínico. A discussão não é simples, mas o entusiasmo faz parecer fácil.

“Conseguir produzir um artroscópio com estas características e o menos invasivo possível requer especialistas com competências muito diferentes, de áreas muito diversas”, afirma Gabriela Lorite coordenadora do projeto e membro da equipa finlandesa. Para a investigadora, “uma das tarefas mais complicadas é fazer com que equipas tão diferentes falem a mesma linguagem e se coordenem para o mesmo fim”. E foi precisamente esse o objetivo da reunião que decorreu nos últimos dias (19 e 20 de junho): “discutir as dificuldades, encontrar soluções e definir os próximos passos, garantindo coesão do trabalho”.

Para João Cortez, investigador do i3S e membro da equipa portuguesa, “o dispositivo que estamos a desenvolver será utilizado em cirurgias minimamente invasivas, quer em medicina humana, quer em medicina veterinária”. Atualmente a tomada de decisão dos cirurgiões em situações de dano nas articulações é apenas baseada na inspeção visual e avaliação “manual” do tecido da cartilagem através de uma sonda, que é muito subjetiva. Por isso, um artroscópio dotado de sonda de infravermelhos médios permitirá uma avaliação quantitativa da cartilagem, e diagnósticos mais precisos – muito vantajosos para a tomada de decisão dos cirurgiões.

Parte da tecnologia de física óptica vem de equipas nórdicas; os espanhóis estão a preparar a integração de componente informáticos, outros trazem conhecimento da área de medicina e veterinária. A equipa do porto está envolvida na exploração e definição de estratégias comerciais do que está a ser desenvolvido no projeto e, como afirma João Cortez, “muitos dos componentes que estão a ser aperfeiçoados para este artroscópio têm enorme potencial de serem aplicados individualmente em inúmeras outras soluções tecnológicas”. Por essa razão, o consórcio conta também com equipas ligadas à proteção de propriedade intelectual e ao direito.

Projeto pioneiro coloca empresas e universidades a trabalharem por um objetivo comum. (Foto: DR)

A sonda artroscópica que está a ser desenvolvida irá permitir, por exemplo, o diagnóstico precoce da osteoartrite, uma doença degenerativa que afeta 242 milhões de pessoas em todo o mundo, com alta prevalência na Europa e elevados custos para os sistemas de saúde. Para Portugal, a participação neste tipo de projetos de alto impacto tecnológico “coloca-nos, também, no grupo de vanguarda da engenharia biomédica mundial”, afirma João Cortez.