Atual doutoranda do ICBAS (3ª a contar da esq.) integra a equipa de Nuno Alves (sentado) no IBMC, da qual também fazem parte Pedro Rodrigues e Catarina Meireles.

Para Ana Rosalina Ribeiro, “tudo” começou em 2011, com um projeto patrocinado por uma bolsa de iniciação à investigação IJUP, o programa de estímulo à Investigação Jovem promovido pela Universidade do Porto. Desse trabalho iniciado pela então estudante mestrado em Bioquímica da U.Porto saíram várias questões, e destas resultaram as respostas agora partilhadas com a comunidade científica num artigo publicado na prestigiada  revista The Journal of Immunology, que lança novas luzes sobre como recuperar o sistema imunológico de pessoas sujeitas a tratamentos de leucemias ou infecções por VIH.

Para encontrar as origens desta história, recentemente noticiada no Público, é preciso recuar dois anos ao encontro de Nuno Alves, um jovem investigador então recém-regressado ao Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) através do Programa Ciência, que procurava estudantes e financiamento para consolidar um grupo próprio. Ana Ribeiro, por sua vez, procurava onde desenvolver a tese de mestrado. Os ingredientes encontraram-se, o projeto obteve financiamento através de uma bolsa IJUP/Unicer, teve continuidade com uma bolsa de doutoramento da FCT, e o sucesso está à vista com a publicação levada à estampa numa revista internacional da especialidade.

Novas luzes sobre o sistema imunitário

O artigo desenvolvido pela equipa do IBMC, do qual Ana Ribeiro é primeira autora, lança então uma nova perspetiva sobre o funcionamento do sistema imunitário, desde sempre considerado intrigante pela forma como responde e se adapta ao mundo que nos rodeia. Nele, explica-se o declínio do sistema imunitário como resultado da estreita relação estabelecida no timo entre linfócitos T e as células que lhes dão origem.

O estudo centra-se sobretudo na capacidade – adquirida nos primeiros anos de vida, em que desenvolvemos inúmeros linfócitos T capazes de reconhecer toda a miríade de substâncias (antigénios) que possam vir a entrar em contacto connosco – do sistema imunológico permitir que, virtualmente, nos defendamos de qualquer agente que nos é estranho. Esta capacidade antecede a maturação dos linfócitos, um processo resultante da comunicação molecular entre os linfócitos que vão ser “educados” e as “células educadoras” do Timo. A comunicação estabelecida entre estes dois grupos de células é também responsável pela perda gradual, ao longo da vida, da capacidade de recrutar novos linfócitos para a linhas de defesa do organismo.

Núcleo de células “educadoras” tímicas rodeado por núcleos de linfócitos imaturos.

A maturação é de resto essencial para que a defesa funcione como deve ser e por isso, os próprios linfócitos vão enviando informação às células de suporte, dizendo que não originem novos mas que reforcem e refinem a maturação daqueles que já estão em linha de produção. E é este balanço e comunicação química que são explicados pelos investigadores da U.Porto.

A equipa de investigação inclui ainda Pedro M. Rodrigues, que tal como Ana Ribeiro, prossegue atualmente  os estudos no programa doutoral em Ciências Biomédicas do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) com um bolsa de doutoramento da FCT. A estes junta-se Catarina Meireles, bolseira de investigação financiada também pela FCT.

IJUP: uma forma de iniciação

Para Nuno Alves, coordenador da equipa, “a publicação é importante para o sucesso científico do grupo” mas, é importante também para “mostra a relevância de iniciativas como o IJUP para o lançamento de novas gerações de investigadores”. Como explica o cientista, “investigadores que não exerçam docência, e há vários nos institutos ligados à universidade, têm maior dificuldade em angariar estudantes para as equipas pois não contactam diretamente com os potenciais interessados”, por isso o sucesso deste trabalho também serve para “demonstrar que se os alunos que procuram estágios ou sítios onde avançar na formação, podem beneficiar se forem proactivos e contactarem directamente os investigadores que estão nesses institutos”.

Referindo-se ao estudo em concreto, Nuno Alves está certo que a descoberta permitirá “desenhar formas de manipular sistemas envelhecidos, proporcionando-lhe recapitalização do arsenal de ataque, e permitindo desenvolvimento de reações contra novos microrganismos patogénicos”. O exemplo avançado por Nuno Alves é a potencial capacidade de recuperar rapidamente o sistema imunológico de pacientes immunossuprimidos, como é caso em tratamentos de leucemias ou infecções por VIH.