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Águias-pesqueiras libertadas em 2012 pelo CIBIO-InBio na Albufeira do Alqueva acabaram por ali nidificar e reproduzir-se com sucesso (Foto: Marco Mirinha).

Vinte anos após a última reprodução com êxito em solo nacional, duas crias de águia-pesqueira voltaram a nascer em Portugal graças a um projeto de reintrodução da espécie desenvolvido pelo CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos e financiado pela EDP – Energias de Portugal.

Foi há apenas alguns dias que os investigadores responsáveis pelo Projeto de Reintrodução da Águia-pesqueira em Portugal tiveram a confirmação que mais esperavam: duas aves libertadas pelo grupo na zona da albufeira do Alqueva nidificaram no mesmo território e conceberam as primeiras crias da espécie ameaçada a nascer em Portugal desde 1996.

Entre 2011 e 2015, o projeto de reintrodução da espécie transferiu 56 juvenis da Suécia e Finlândia para a albufeira de Alqueva, onde 47 dispersaram com êxito após o período de aclimatação. As aves foram marcadas com anilhas de cor para permitir detetar o seu regresso como potenciais reprodutores.

O regresso do primeiro adulto só foi observado em 2014, mas em 2015 já se fizeram quatro observações de aves anilhadas pelo projeto na região de Alqueva e no sul de Espanha. Datam também de 2015 as primeiras nidificações em Portugal: uma na Albufeira de Alqueva e outra na Costa Vicentina, a área onde em 2002 se extinguiu a população nativa.

Nesta primavera, a águia-pesqueira – ou guincho, como foi popularmente conhecida em Portugal durante séculos –, voltou para se reproduzir em Alqueva, do qual resultou o nascimento destas duas primeiras crias. O macho do casal foi transferido da Finlândia para Portugal e libertado em Alqueva em 2012, enquanto a fêmea é proveniente de um projeto de reintrodução na Andaluzia, onde foi libertada em 2012, após ser transferida da Alemanha.

O projeto de reintrodução da espécie em Portugal vai agora entrar numa nova fase, com a recente renovação da parceria entre o CIBIO-InBIO e a EDP. O melhoramento do habitat, viabilizado pelos três anos adicionais de financiamento da empresa elétrica portuguesa, permitirá atrair quer as aves libertadas em Portugal, quer as provenientes da reintrodução em Espanha (Andaluzia e País Basco), ou ainda as que se encontram em trânsito migratório por Portugal. Os investigadores procurarão também assegurar uma monitorização eficaz dos retornos, nidificações e reproduções, assim como uma ampla divulgação e sensibilização pública.

Segundo Luís Palma, investigador do CIBIO-InBIO e coordenador técnico-científico do projeto “a renovação da parceria é fundamental para garantir o sucesso do projeto, permitindo tornar mais rápida a instalação de novos casais reprodutores e desta forma a expansão da nova população”, através da instalação de plataformas artificiais de nidificação em áreas criteriosamente selecionadas.

Áreas com “grande abundância de alimento e muito procuradas pela espécie, tais como estuários e lagunas costeiras, rios caudalosos e uma boa parte das barragens do sul do país” são as zonas preferenciais para este tipo de atuação, explica Pedro Beja, investigador do CIBIO-InBIO e coordenador geral do projeto.

O êxito do projeto resulta de diversas parcerias e apoios, destacando-se as dos investigadores e entidades dos dois países dadores de juvenis: Suécia e Finlândia. A nível nacional, foram também determinantes, entre vários outros, a EDIA (Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva), a Fundação da Casa de Bragança, ex-SAIP (Sociedade Alentejana de Investimentos e Participações), o ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e Florestas) e a Universidade de Évora.